sexta-feira, 11 de setembro de 2009

pensamentos de um mendigo

PENSAMENTOS DE UM MENDIGO

A rua é o meu lugar. Às 11 horas, quando acordo pela manhã, não consigo ver além dos joelhos das pessoas que passam ao meu lado. Deitado no meu lugar preferido, apesar de ser um nômade na grande cidade, vejo pernas que passam rapidamente por mim enquanto minha face, debruçada sobre a calçada, inicia uma lenta e gradual subida, até que me coloca na posição sentado. Sei que minha presença incomoda, mas isso, nessa altura do campeonato, é indiferente. Das pessoas até espero respeito, mas principalmente que contribuem com meu sustento, mesmo que isso perpetue minha situação. Não culpo o governo nem a sociedade, tenho plena consciência dessa vida deplorável que eu mesmo criei.

Hoje é sábado, pode até parecer que isso não faz diferença para quem passa o dia perambulando por ai, no entanto, o próximo dia trará dificuldade para eu encontrar condições de sobrevivência. No domingo há poucas carteiras e bolsas zanzando pelas calçadas. Me sinto um gafanhoto em época de secas.

Gente, já é quase hora do almoço para os padrões normais. A mim, resta levantar e, como um animal sem dono, ir à caça do alimento que, na maioria das vezes, demoro a conseguir. Falando em animal, tempos atrás meu senti como um cachorro, quando a “carrocinha”, a pedido da prefeitura, estacionou a poucos metros de onde eu estava e alguns homens disseram que me arranjariam um lugar melhor para ficar. É claro que percebi a estratégia... iriam me mandar para outra cidade para ficar livre desse pária que nem mereceria ter sido parido. Minha nossa, como corri... sabia que não ia adiantar argumentar e tampouco teria forças para lutar contra eles.

E pensar que há dez anos tudo era diferente: tinha uma casa própria, carro e um bom emprego. Minha desgraça foi ter perdido meu grande amor. Como é que Deus me tira ela dessa forma, estava casado não fazia um ano. Era extremamente apaixonado! É por isso que acabei acreditando que somos marionetes nas mãos Dele. É só desejarmos muito uma coisa, que o Todo Poderoso faz questão de contrariar. Meu sonho era viver eternamente com minha bela mulher, pessoa muito inteligente, carinhosa e fiel que o destino, disfarçado de caminhão e em alta velocidade, a tirou do meu lado. O impacto foi grande e a morte instantânea.

Abandonei tudo, nem sei que fim deu os bens que eu tinha. Meu parentes me procuraram no início, mas tanto insistiram que desistiram, não havia possibilidades, eu estava e estou órfã de coragem para encarar a rotina das pessoas “normais”. Estou abandonado à própria sorte. Vejo outras mulheres como vejo outros homens, não percebo a sensualidade feminina e não raro, sonho com a minha amada. Sabe quando dizem que a vida parece não ter sentido? Então, para mim que não tenho coragem de me suicidar, vou carregando esse sentimento até que o Senhor me leve ao encontro do meu amor. Isso, se não resolver me contrariar, me dando vida eterna aqui na terra ou me mandando para as chamas do inferno.

Roberto Crepaldi Dias